quarta-feira, 21 de março de 2007

Poesia & Primavera


Viburnum (Herbário no jardim da Escola, Mar 07)

Gozo os campos sem reparar para eles.
Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas ideias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos -
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma coisa dos ruídos indistintos das coisas a existir
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas
órbitas,
E só um resto de vida ouve.

Alberto Caeiro, Poesia

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